E eu constato: não aprende(re)mos a compartilhar. Crescer para ser indivíduo, indivisível. Conquistar pelo próprio esforço. Ter e garantir que se tenha sempre. Muito. Ou o suficiente para ser, sozinho. Auto-suficiência primeiro, depois a gente vê qual é que é.
Ser indivíduo e viver em dupla parece ser o desafio dessa geração. É tempo de desistir: faz parte e é legítimo. O que se faz diante do desequilíbrio? O poeta finge. E você?
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Fernando Pessoa - Autopsicografia
Não é a primeira vez que recebo uma notícia dessas.
Nem é a primeira vez que fico triste por causa disso.
Mas isso não muda nada.
Um comentário:
Só posso dizer, pois é.... desistir aparentemente, para alguns, é mais fácil que lutar...
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